::BIOGRAFIAS::
:: BESOURO MANGANGÁ
A história dos grandes capoeiras, vive até nossos dias, na imaginação popular e cantigas que narram suas façanhas. Em Salvador por volta de 1920 o chefe de polícia Pedrito de Azevedo Gordilho, perseguiu não só as rodas de capoeira, mas também o samba e o candomblé.
Nessa mesma época surge em Santo Amaro, Besouro Mangangá ou Besouro Cordão de Ouro, que foi um dos maiores capoeirista da Bahia um dos mais admirados e citado em canções nas rodas de capoeira. Nascido em 1897, era filho de João Grosso e Maria Haifa, chamava-se MANOEL HENRIQUE. Aprendeu Capoeira com o escravo chamado Tio Alípio. Ganhou o apelido de Besouro (inseto de picada venenosa) devido a crença popular que dizia que quando ele arrumava alguma enrascada e o número de inimigos era grande alem do que ele poderia suportar, não sendo possível vence-los ele se transformava em besouro e saia voando.
Sua escola de Capoeira ficava em Santo Amaro, onde fez discípulos como Cobrinha Verde que também era seu primo. Era exímio capoeira e faquista perigoso. Tinha o "corpo fechado" e não gostava de polícia. Em 1924, empregou-se de vaqueiro na fazenda de um senhor conhecido pelo nome de Dr. Zeca. Este fazendeiro tinha um filho de nome Memeu que era muito genioso. Ele teve uma discussão com Besouro, seu pai temendo por sua vida, mandou Besouro se empregar em uma usina onde tinha um amigo administrador. Mandou então uma carta para ele, pelo próprio Besouro que não sabia ler. Esta carta pedia que dessem fim nele por lá mesmo.
O administrador lendo a carta disse a Besouro, que esperasse a resposta até o dia seguinte. Besouro passou a noite em um prostíbulo e no dia seguinte foi buscar resposta. Quando chegou foi cercado por uns 40 homens os quais lhe atiraram, as balas nada lhe fizeram, mas um homem o feriu pelas costas com uma faca de tucum (madeira com resistência de ferro, alguns diziam que esta tinha poderes mágicos). Morreu aos 27 anos de idade. Eis uma de suas façanhas narrada por seu ex-aluno Cobrinha Verde:
"Certa vez estava sem trabalho e foi procurar um ganha pão. Foi a uma usina e deram-lhe trabalho. Quando foi no dia do pagamento ele sabia que o patrão tinha o hábito de chamar o trabalhador uma vez, e na segunda dizia: "quebrou para São Caetano", que queria dizer: não recebe mais. E se o fulano reclamasse era chicoteado e ficava preso no tronco de madeira com o pescoço, os braços e as pernas no tronco por um dia e depois era mandado embora. Na hora do pagamento disse a Besouro "quebrou para São Caetano". Todos receberam o dinheiro menos Besouro. Besouro então invadiu a casa do homem e gritou: - "pague o dinheiro de Besouro Cordão de Ouro! Paga ou não paga!". O patrão rapidamente mandou que pagassem o dinheiro daquele homem. Besouro tomou o dinheiro e foi embora.
Besouro também não gostava de polícia. Muitas vezes encontrava companheiros que iam presos e os tomava da mão de qualquer soldado, batia em todos, tomava-lhes as armas, levava-as até o quartel e dizia: "tá aqui, seus morcegos" e jogava as armas. Um dia ele estava em frente ao Largo da Cruz e passou um soldado. Besouro o forçou a tomar uma cachaça. O soldado saiu dali para o quartel e fez queixa ao tenente que mandou 10 soldados para prender Besouro, vivo ou morto. Chegando lá deram ordem de prisão. Besouro saiu do botequim de costas, foi para a cruz, encostou-se nela, abriu os braços e disse que não se entregava. Os soldados começaram a atirar. Besouro fingiu está baleado e caiu os soldados acharam que ele estava morto e se foram. Besouro então se levantou e saiu cantando.
:: MANDUCA DA PRAIA
Foi muito antes da abolição que os capoeiristas individualmente ou em maltas, perturbaram e aterrorizaram a sociedade carioca.
As maltas eram usadas indiscriminadamente em rixas de políticos de diferentes facções. Um capoeirista famoso conhecido por toda população do Rio de Janeiro foi o Manduca da Praia, homem de negócios, respondeu a 27 processos por ferimentos graves e leves, sendo absolvido em todos eles pela sua influência pessoal e de amigos.
Era pardo claro, alto, reforçado, usava barba grisalha. Sua figura inspirava temores para uns e confiança para outros. Vestia-se com decência, chapéu na cabeça, usava um relógio que era preso por uma corrente de ouro, casaco grosso e comprido que impressionava as pessoas com seu porte, usava como arma uma bengala de cana-da-índia e a ele deviam respeito.
Certa vez na festa da Penha brigou com um grupo de romeiros armados de pau, ao final da briga deixou alguns inutilizados e outros estendidos no chão, entre outras brigas e confusões. Ganhava bastante dinheiro, seu trabalho era uma banca de peixe que tinha no mercado, vivia com regalias e finais de semana saia para as noitadas.
Morador da Cidade Nova, era capoeira por conta e risco assim disse Nulo Moraes. Manduca não participava da capoeiragem local, não recebia influência nem visitava outras rodas, pode-se dizer que ele era um malandro nato. Manduca da Praia conquistou o título de valentão, subestimando touros bravos, que sobre os quais saltava quando era atacado.
:: MESTRE BIMBA
Seu nome: Manoel dos Reis Machado, filho de Luiz Cândido Machado e de Dona Maria Martinha do Bonfim, nasceu no dia 23 de Novembro de l900, no bairro do engenho Velho, Freguesia de Brotas, Salvador - Bahia.
O apelido de "BIMBA" resultou em uma aposta entre a sua mãe, Dona Martinha que acreditava que daria à luz a uma menina e por outro lado a parteira que o assistiu que seria menino. Na hora do nascimento a mãe pergunta para parteira e aí ganhei a aposta e a parteira responde, é "BIMBA" Dona Martinha. Bimba quer dizer o nome do órgão genital masculino no Nordeste, referindo-se às crianças.
Bimba começou seu aprendizado na Arte da Capoeira com 12 anos de idade, tendo como Mestre, um filho de africanos de nome Bentinho, que era capitão da Companhia de Navegação na Bahia. Seu aprendizado com Bentinho levou 4 anos, a partir deste período passou a transmitir os ensinamentos recebidos e ensinou Capoeira Angola na Capitania dos Portos da Bahia por 10 anos.
A Capoeira Regional surgiu com a fusão da Capoeira Angola e o Batuque, um certo tipo de luta que aprendeu com seu pai, que era campeão absoluto na Bahia, dando-lhe assim, uma roupagem nova, digna de admiração e respeito. A partir daí passou a se chamar "LUTA REGIONAL BAIANA" testando sua eficiência não apenas com capoeiristas e policiais agressores, mas, principalmente desafiando outros lutadores famosos de outras modalidades. Vencendo todas as lutas e quem mais tempo resistiu durou apenas 1 minuto e 10 segundos. Jornais da Bahia relataram seus feitos, fazendo alusão à sua coragem e bravura. Esta luta teve este nome por ser apenas praticada em Salvador, mais tarde com sua expansão passou-se a chamar CAPOEIRA REGIONAL.
Em 1932, fundou sua primeira academia no estilo Regional, no Engenho Velho de Brotas em Salvador, com o nome de CENTRO DE CULTURA FÍSICA REGIONAL BAIANA. A partir de então, iniciou-se sua ascensão, tornando-o famoso e ganhando vários títulos. Um deles é o de "Pai da Capoeira Moderna".
Em 1937, conseguiu o registro de sua academia junto à Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública de Salvador, como reconhecimento de seu trabalho. E em 1942 fundou sua segunda academia no Terreiro de Jesus.
Cansado por falta de apoio dos poderes públicos da Bahia e enganado pelas promessas de seu aluno formado Oswaldo de Souza, que ministrava aulas em Goiânia, em janeiro de 1973 mudou-se para esta capital, na certeza de uma vida mais digna.
Em 15 de fevereiro de 1974, no Hospital das Clínicas de Goiania, morre Mestre Bimba vítima de um derrame cerebral, desgostoso pelas traições, falta de apoio e dificuldade financeiras.
:: MESTRE ITAPOAN
Raimundo Cesar Alves de Almeida, nasceu em 13 de Agosto de 1947 em Salvador Bahia e é conhecido no universo da Capoeira como Mestre Itapoan, ganhou este apelido por morar em Itapoã bairro de Salvador.
Começou a praticar Capoeira em 22 de Setembro de 1964 aos 17 anos. Era aluno do Mestre Bimba com quem muito se identificava, e fazia todos os seus cursos. Em 1965 se formou recebendo o lenço azul, no ano seguinte fez um curso de especialização que lhe daria o lenço vermelho. Em 1967 recebeu o lenço amarelo por ter terminado o curso de especialização.
Em 1970 Mestre Bimba organizou um torneio de formados. Mestre Itapoan foi o campeão na categoria absoluto, um ano depois foi campeão absoluto e campeão de duplas dos Jogos Universitários Baianos.
Com Mestre Bimba, ele treinou até 1972, pos foi o ano em que Mestre Bimba decidiu mudar-se para Goiás. Mestre Itapoan resolveu ter seu próprio trabalho e junto com Hélio Xaréu fundou ainda em 1972 a GINGA ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA.
Três anos depois, foi campeão da "Taça Mestre Bimba no Jubileu de Prata F.B.P." como técnico da GINGA. Também como técnico foi tricampeão baiano de Capoeira nos anos de 1976, 77 e 78.
Em 1980 Mestre Itapoan fundou a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PROFESSORES DE CAPOEIRA (A.B.P.C.), da qual é Presidente. Incansável, fundou ainda a FEDERAÇÃO BAIANA DE CAPOEIRA em 1983 e faz parte do Conselho de Mestres .
Em 1982 lançou o primeiro de vários livros que já escreveu, com o seguinte título "BIMBA, O PERFIL DO MESTRE", após este vieram "ATENILO, O RELAMPAGO DA CAPOEIRA REGIONAL"; "A BIBLIOGRAFIA CRÍTICA DA CAPOEIRA" e "A SAGA DO MESTRE BIMBA".
Lançou ainda a REVISTA NEGAÇA que já está no quarto volume.
Foi agraciado com a MEDALHA DO MÉRITO DESPORTIVO NACIONAL, por indicação do Presidente do CND, MANOEL TUBINO, aprovado pelo MEC, pelo Ministro CARLOS SANTANA e autorizado pelo então Presidente da República JOSÉ SARNEY, em 1992.
Além da vasta experiência na Capoeira, Mestre Itapoan é formado em ODONTOLOGIA desde 1975. É CIRURGIÃO DENTISTA, Professor Adjunto da UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, dando aulas de ENDODONTIA e vice-presidente do departamento de ODONTOLOGIA RESTAURADORA.
Atualmente, com 35 anos de "bagagem" como dizem os capoeiristas. Mestre Itapoan, até hoje, mora no mesmo lugar que deu origem a seu apelido, no litoral de Salvador em Itapoã, e ministra cursos, palestras e participa de rodas de Capoeira por este Brasil afora.
:: MESTRE PASTINHA
Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889,filho do espanhol Jose Senor Pastinha e de Dona Maria Eugenia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe ,com a qual ele teve pouco contato ,era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupas.
Com oito anos de idade Pastinha conheceu a arte da capoeira. Quem o iniciou foi um negro africano a quem chamava de tio Benedito que ao ver Pastinha um menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho resolveu ensinar-lhe a arte da capoeira. Passava tardes inteiras treinando num velho sobrado da rua do Tijolo em Salvador .Ali aprendeu alem de tudo a jogar com a vida e a ser um vencedor.
Viveu uma infância feliz, porém, modesta. Durante as manhãs frequentava aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. À tarde, empinava arraia e jogava capoeira. Com 13 anos era o mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, foi matriculado por seu pai na Escola de Aprendizes de Marinheiro que não concordava muito com a prática da capoeira pois achava que era muita vadiagem. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos amigos que conquistou a arte da capoeira.
Quando completou 21 anos voltou para Salvador, decidido a se dedicar à pintura. Nos horários de folga praticava capoeira às escondidas, pois no início do século esta luta era crime prevista por Lei.
No ano de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, situado no casarão 19 do Largo do Pelourinho esta foi sua primeira Escola de Capoeira. Seus alunos usavam como uniforme calças pretas e camisas amarelas, cores do time pelo qual torcia na Bahia, o YPIRANGA FUTEBOL CLUBE.
Pastinha trabalhou bastante em prol da Capoeira, representando o Brasil e a Arte Negra em vários países.
Com 84 anos de idade, doente, e fisicamente debilitado, foi morar no Pelourinho em um pequeno quarto, com sua segunda esposa, Dona Maria Romélia, deixando a antiga sede da Academia , devido aos problemas financeiros, o único meio de sobrevivência provinha dos acarajés que sua esposa vendia.
Em Abril de 1981, participou da última roda de Capoeira de sua vida.
Numa sexta-feira, 13 de novembro de 1981, Mestre Pastinha se despede desta vida aos 92 anos, cego e paralítico, vítima de uma parada cardíaca fatal.